Aqui todos se dedicam muito às ciências, mas não sei se são realmente sábios.
Aquele que duvida de tudo como filósofo nada ousa negar como teólogo; esse homem contraditório está sempre contente com ele, contanto que se reconheça suas qualidades.
A ânsia da maioria dos franceses é ter espírito; e a ânsia daqueles que têm espírito é escrever livros.
Entretanto, não há nada de tão mal imaginado; a natureza parecia ter sabiamente disposto para que as tolices dos homens fossem passageiras, mas os livros a imortalizam. Um tolo deveria ficar contente por ter aborrecido todos aqueles que conviveram com ele; quer ainda atormentar as gerações futuras; quer que sua tolice triunfe sobre o esquecimento, do qual poderia ter usufruído no túmulo; quer que a posteridade fique informada que ele viveu e que saiba para sempre que foi um tolo.
De todos os autores, aqueles que mais desprezo são os compiladores que andam a toda parte à procura de fragmentos das obras dos outros que colam nas suas, como pedaços de grama num estrado; não está acima desses empregados de editora que perfilam caracteres que, combinados num conjunto, produzem um livro, para o qual só emprestaram suas mãos. Gostaria que os livros originais fossem respeitados; parece-me que é uma espécie de profanação extrair peças que os compõem do santuário em que estão para expô-las a um desprezo que não merecem.
Quando um homem não tem nada a dizer de novo, por que não se cala? Que temos a ver com esses duplos empregos?
“Mas quero dispor uma nova ordem – És um homem hábil! Vem à minha biblioteca e farás o seguinte: Põe na parte debaixo os livros que estão no alto e no alto aqueles que estão embaixo; não deixa de ser uma obra-prima!
Escrevo-te a respeito disso porque estou indignada com um livro que acabo de ler e que é tão grosso que parecia conter a ciência universal, mas me fez quebrar à cabeça sem aprender coisa que valha. Adeus.
Cartas Persas - Charles de Montesquieu