"Quando a borboleta coroou a flor amarela, os lírios, em ângulo reto com seus caules, fizeram uma profunda saudação..." - Guimarães Rosa
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
O fruto do vosso ventre.
Deixe que penetre em tua nave a aliviar-me da culpa do ser e sinta crescer em minha alma o que promete o alívio. Mais que a purificação da própria idéia de pecado, quero o dilúvio inexorável de minha pessoa pecadora, tecendo a teia de outra aléia. Quero adentrando em teus pórticos, viver a benção de teus santos, sofrer o ritmo de teus maiores, andar entre cantos e incensos e possivelmente, nua, despida e mítica, ser prostada em teu altar, adoravelmente miserável e arrependida, exausta e exangue, ser de novo acolhida, filha pródiga banqueteada com tua carne e com teu sangue. Então, ladeada de olhares penitentes, ser reticente com minha insistência no persistir em ver e olhar o confessionário como templo mais que sacro, a mim confessando a palavra proibida, a que aprás ser pecadora, e me assistir, a cada tempo, solitária e vária, para sempre fraca, tímida semente do semeador, maltratada e maltratando na terra que lavra a vida, gozando a vertigem de estar perdoada para nova semeadura. Pois o bastão que me fincou nesta agricultura também permite que outra verdade reprovável deite no colo da Virgem.
A deusa aprisionada !
Que se entreabam os lábios, góticos,
Devorando com a totalidade apreendida,
A impetuosa fúria então oferecida
Pela metonímia de desejos ópticos.
E os seios lindos, qual mármore esculpido,
Decifrem a vontade de lamber a pedra,
E as rachaduras de impérios em queda
Renasçam nos dedos dos pés do corpo erguido.
Que a visão e a palavra que a reveste
Se assombrem do muito pertencer;
Se o olhar faz o sentido se acender,
A palavra sabe reogarnizar a peste.
Que de tanto olhar-te assim, petrificado,
Lamento o tesão, energia subalterna,
Avalisado e dependente da expressão externa,
Traduzido na rima que o enquadra.
Mas se a visão for (também) uma outra lei?
O aleatório terá talvez seu ritmo,
E fugirei, pra ti sem ser legítimo,
Com tudo o que eu sou e o que eu não sei.
Devorando com a totalidade apreendida,
A impetuosa fúria então oferecida
Pela metonímia de desejos ópticos.
E os seios lindos, qual mármore esculpido,
Decifrem a vontade de lamber a pedra,
E as rachaduras de impérios em queda
Renasçam nos dedos dos pés do corpo erguido.
Que a visão e a palavra que a reveste
Se assombrem do muito pertencer;
Se o olhar faz o sentido se acender,
A palavra sabe reogarnizar a peste.
Que de tanto olhar-te assim, petrificado,
Lamento o tesão, energia subalterna,
Avalisado e dependente da expressão externa,
Traduzido na rima que o enquadra.
Mas se a visão for (também) uma outra lei?
O aleatório terá talvez seu ritmo,
E fugirei, pra ti sem ser legítimo,
Com tudo o que eu sou e o que eu não sei.
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