domingo, 17 de novembro de 2013

A CARTA

A campainha toca.
Na porta: um entregador
Em suas mãos: uma carta
Prendo a respiração
Ninguém mais escreve cartas hoje em dia
Penso: alguém morreu.

Fecho a porta
Abro a carta
Em seu conteúdo a seguinte frase: te amo.

Simples assim, sem assinatura, sem reticências,
Somente: te amo
Me confundo

E eu? Te amo?
Sinto apreensão
Não tenho namorado e nem um futuro a vista

Da apreensão para o desespero
Será um psicopata?
Hoje em dia, vai saber.

E se for algum parente? Minha mãe quem sabe.
O cúmulo da carência.
Penso eu.

Desisto de pensar
Volto aos meus afazeres
Trabalho, estudos, cuidar da casa, do cachorro.

Me deito, já passou da meia noite.
Na madrugada, outra vez a campainha toca.
Me assusto

Moro em um prédio de 13 andares, eu sou do 11.
Nenhum porteiro deixaria alguém subir sem interfonar as 3 horas da manha
Olho pelo olho mágico: não tem ninguém.

Abro a porta
No chão, um buque de flores
Lírios brancos.

Fico confusa novamente
Só pode ser alguém do prédio.
Mas quem?

Vou me deitar, amanha eu penso nisso.

Acordo, tomo café
No caminho para o trabalho alguém me para na rua
Um moço alto, charmoso, meio atrapalhado
Você recebeu minhas flores?
(olho para os lados a procura de uma viatura)
Aham
E o telegrama?
Aham
(viro monossilábica, era mesmo um psicopata)
Eu não queria te assustar, mas eu sou do seu prédio e te vejo todos os dias
(mas uma vez procuro pela viatura)
Ok
Eu sei que isso deve parecer assustador, mas era o único jeito de chamar sua atenção.
(e que atenção)
Será que você aceita um jantar comigo?
Ok
E saio correndo.

No trabalho, reflito
Ele sabe onde eu moro, se eu não aparecer, ele aparece
Acho melhor comprar uma arma

Ao anoitecer, a campainha toca
Era ele
Super elegante, com um Merlot a mão
Surpreendentemente me acalmo.

Pode entrar!
Lhe ofereço a poltrona, pego 2 taças de vinho.
Delicioso!

A noite passa
E com ela horas de puro deleite
Risadas frouxas
Conversas inteligentes
Beijos calientes
E sexo melhor ainda.

Ao acordar, uma outra carta
Em seu conteúdo: obrigada!
Nada mais...







domingo, 29 de setembro de 2013

....

No começo, tudo era estranho, até mesmo ele. Ele não fazia o tipo dela, não fisicamente, mas tudo nele indicava um interesse, ao qual ela não conseguia desapegar.
Com o tempo, ele foi se tornando especial. Ela jurava para ela mesma que não era nada demais, que era apenas casual. E foi se tornando cada vez mais rotineiro e presente em sua vida. Do desapego ao desespero.
Na sua frente, ela ficava muda, e nada falava. Não sabia o que falar, nem pensar ela pensava. Silêncio total. Ele sempre tão distante, de corpo e alma, sempre sozinho. Ela sempre a espera de algo que nem ela mesmo sabia o que era. Nem dela, nem de ninguém.
Ciúmes foram aparecendo como as mudanças no decorrer do tempo. Ciúmes por parte dele, ciúmes por parte dela. Nada escancarado.
Ela desapegou, quis desistir, mas não conseguia. Na sua presença tudo era mais forte, difícil hesitar. Nem falar, ela falava. Escrever é mais fácil. Seus amigos em comum davam conselhos, ora ruins, ora bons. Da menina decidida, para menina sem ação, eternamente a espera.
Ela resolveu calar o corpo também, unicamente dele. Mas nem isso ajudou. Ele sempre quieto, tímido, receoso. De uma relação que nunca teve inicio, o fim é só o começo...




quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Me desculpe

Me desculpe,

Estou perdida.
Em um daqueles momentos em que não sabemos nem nosso nome, onde não sabemos aonde enfiar a cabeça quando acordamos,
com quem ou sobre o que conversar, onde saímos pela rua pelo simples fato de querer movimento, mas sem rumo certo.
São 6 anos de rumo perdido, poderia jurar que eram 8, 10. Meu rumo se perdeu quando eu me perdi, e não sei dizer quando isso começou. Talvez na adolescência. Talvez depois de amadurecer, mas acho que de fato, nunca amadureci, não por completo. Nem por metade, na verdade. O mundo a minha volta parece direito, com todas as peças encaixadas, e cada um sabendo exatamente o que fazer da vida. Claro, tem sempre aqueles que nunca se acharão, mas vai saber...
E em todas essas peças encaixadas não sobram espaços para mim. Seja onde for, ou com quem for, nada é suficiente. Nada me preenche, nem mesmo por segundos, ou talvez apenas por segundos. Sempre achei que essas rotinas diárias eram maçantes demais, que essa vida de trabalho árduo era injusta demais, e que a vida era muito mais que ganhar dinheiro e não usufruir dele como bem quiser. A vida são momentos, e esses momentos, devem ser vividos, sem regras, sem cintos de castidade, sem limites. Mas é difícil seguir por um caminho desses, não envolve apenas um individuo, querendo ou não, envolve muitos.
Dizer que estou cansada seria eufemismo, acho que sempre me senti cansada. Cansada de acordar e ter que dar bom-dia, cansada de viver no mesmo lugar com as mesmas pessoas, cansada de ter obrigações, cansada de conhecer pessoas, cansada de respirar, apenas cansada.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Mais uma sobre você

De novo, e de novo e de novo,
Mais uma sobre você.

Nada muda.

Nosso silêncio permanece, nossa indiferença equivalesse.

Você me acusa de não te dar carinho, e nem da atenção. Mete o pau, diz que me odeia, e que eu não sirvo pra nada, nem mesmo para fazer um café. Você me insulta, com um ar de superioridade que só a embriaguez pode dar. Aquele ar de quem gosta querendo odiar, e de quem odeia querendo beijar. Você me xinga, e eu não falo nada.

Reflexões no dia seguinte...

Mas sobre mim, do que sobre você.
Sobre o meu eu-sujeito, sobre o meu ser. Se ele está perdido, onde está o caminho?

Resolver os problemas é mais difícil do que começa-los. Discuti-los é incansavelmente chato.
Para mim, o suficiente era o que nada dizer, apenas deixar que as coisas se consertassem, mas elas não consertam, não modificam. Se você me acusa de atos falhos é porque você os comete também. Como pode me exigir o que você mesmo nunca me deu?

Hipocrisia generalizada.

Agora eu quero por os pingos nos is.
Mas tenho medo, não da resposta, e sim da sua esquiva. Parece que adivinho cada passo seu e cada palavra a ser dada.
Mas do que isso, eu me petrifico em sua presença, como criança com medo de levar porrada. Eu me escondo, me esquivo, sussurro um oi a meia boca e saio correndo sem olhar pra trás. Você também o faz, fica tímido, mas do que isso, se intimida.

Olhar nos olhos é para os fortes.
Acredito que sou incapaz. Passo grande demais

Assim como andar de mãos dadas, abraços em publico, conhecer os pais. Quando a gente gosta a indiferença é a principal arma. Cometemos falhas, tropeçamos em publico, fazemos besteira atrás de besteiras, nos silenciamos.
Mas se um dia chegar alguém e me tirar de você, eu morro, ou mato.
O que fazer para evitar?
Tento ser forte, mas na sua presença, eu não consigo.

Se você não falar. Eu não falo.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

ser ou não ser?

Toda mudança vem de uma necessidade de não querer o que se tem.
Tudo passa, tudo se esquece.

- Mas e nós?

Às vezes acredito que se eu me deixar calar você não vai embora
Às vezes eu sei que é apenas ilusão

- Posso ir embora?

Cada começo é uma história
E para cada fim, há um recomeço.

- E se eu for?

Ninguém se importa. Nem você. Nem eu. Ninguém

- E se eu me calar?

Melhor calar a alma.

domingo, 14 de julho de 2013

Entre tantos

E em tantos corpos eu encontro um refúgio, um abraço, um carinho temporário.
Entre tantos corpos que não o seu.
Entre tantos nomes desconhecidos ou nem ser quer conhecidos eu encontro um sorriso
Uma paixão.
Entre tantos que não o seu.
Entre tantos beijos, eu encontro o desejo
Entre tantos que não o seu.
Entre meias verdades, entre a solidão
Eu me encontro.


Entre nós, apenas o desencontro.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Deixe estar

Desejo apenas o momento
Aquele breve momento em que você me olha, me espera, e me têm.
Aquele infinito e ínfimo tempo, onde somos apenas nós, e nada mais importa.

Desejo esse momento a todo o momento
Porque não?

Garota apaixonada jamais.
Libertina
Garota realista. Não quero o que não posso ter.
Não quero ter, eu diria.

Garoto bobo, talvez.
Mas sincero
Garoto medroso, eu diria.

- E o que é que tem?
Não tem nada, eu sei.

Nunca teve

- E terá?

Vai saber
Eu não sei



terça-feira, 23 de abril de 2013

Até quando?

Estamos sentados, você e eu. O sofá é de couro, marrom, cada um em uma ponta, apoiados nos braços. Na TV mais um seriado americano de que somos fãs, assistido sempre no mesmo dia e mesma hora da semana. Calados, atentos. No intervalo você me olha como quem diz: e ai? - e eu te lanço um olhar de escanteio e me volto para TV. Nada mais importa nesses 5 minutos, o silêncio preenchendo todo o espaço vazio. Eu e você, apenas. Termina a sessão, um se levanta, vai ao banheiro, o outro a cozinha. Voltamos, é a hora de um filme, faroeste, talvez, ou um desses filmes ao qual precisamos assistir novamente e novamente para chegarmos a uma opinião no mínimo razoável. Hora de dormir. Às vezes estamos no mesmo quarto, colados corpo no corpo, suor e mente, ás vezes estamos cada um em um canto dessa enorme casa, dormindo como quem não quer mais ser acordado. Eu e você, assim. As más línguas dizem que somos estranhos nessa relação, mas nos conhecemos até demais. Cada olhar, cada suspiro, cada desprezo. Tudo é relevado, calculado, sentenciado conscientemente, e depois, guardado. Para quê expor o que sabemos? Relacionamentos a dois têm dessas coisas. Cada canto um conto. No fim desse conto, basta a compreensão, o respeito. Nos lidamos bem, nós sabemos. Eu e você, sempre assim. Acomodados, habituados, requisitados, invejamos um ao outro. O que um têm peca na diferença, acrescenta-se o desejo. Eu e você, mutuamente. Sorriso de canto de boca, é para poucos. Está mais fácil o desleixo, o descuido. Somos loucos, nós sabemos. Se nem eu entendo, como posso querer que os outros entendam? Eu e você, até quando?

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Futuro

E você lá sempre me olhando, parado, se esquivando
E você lá me vigiando, a cada passo meu
Mesmo quando você não está, você está lá
A sua alma, os seus olhos, sua visão, tudo.
E você não diz, não pisca, só passa e passa e passa
Você me atordoa, me destoa, me vira do avesso e depois sai...
Ou não sai.
Você para, repara, me empalha
Você diz: me perdoa
E eu me pergunto o porquê.
A resposta não está em suas palavras, nem nos seus atos, de fato em fato
A resposta é o seu anseio, a sua medida, sua cautela
Te perdoar? Pelo quê? Esse é você, cabe a mim aceitar.
Se eu te amo? talvez não, talvez sim
Quem sabe?
Você me ama? provavelmente não
"O amor dói"
E cada esquina, cada festa, cada música, só nos faz lembrar
E cada foto, cada silêncio, cada minuto só nos faz pensar
E cada dia, cada vez, cada estar, só nos faz suspirar.
É, nos queremos, nos metemos, nos erguemos
Enfim.... você e eu, juntos assim
Quem diria. Eu não
Você e eu, medindo cada compasso dessa dança
Assim seria, vale a pena dizer.
Enfim... somos assim
Só não prometa, só não desminta, só não volte atrás
Depois da palavra lançada o que resta não vale nada
Melhor deixar pra lá, será?
Depois de tudo, 1 ou ano ou mais, o que saber?
Uma nova mudança, uma nova dança, uma nova cidade. E agora?
Sei lá.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Prometo

Bate a minha porta a depressão
Sinto uma angustia sem nome, sem codinome
Deixo-me levar para debaixo do cobertor, do mundo...

Horas se passam, minutos que duram a eternidade
Tudo passa, tudo continua, menos você e eu.

Depois de anos de relação, de não dizer, de tentar mentir
Depois de tudo, voltamos.
O amor é de fato complicado.

Será que essa dor nunca irá passar?
Será que a vida é de fato essa desgraça?

Acho que ser feliz está fora de cogitação

Os problemas sempre vencem, simplesmente porque não somem
A vida sempre adormece a carne humana.

Beijos, abraços, carinho, paixão
Final de temporada, eu diria.

Fica comigo! Para sempre.
Até o mundo acabar, ou até nossos erros serem maiores que os acertos
Fica?

Você é o meu mundo, o meu espelho.
Vulnerabilidade a flor da pele.
Você e eu, juntos, de novo.

Prometo cometer os mesmos erros,
Os mesmos acertos.
Prometo ser a mesma menina de 8 anos atrás

Prometo prometer, porque se não, qual a graça?
Se mudarmos a ponto de nos esquecermos,
Do que adianta?

Prometo te amar, como sempre te amei
Como primeiro e único.
Mas não prometo ser tua para sempre...

Isso não.

A liberdade de fato é preciosa
É estupenda.
Maravilha mundana

Não prometo ser sua,
Porque não sou nem minha.

Não prometo, porque te amo
E amor nenhum merece ser preso por engano

Não prometo porque te quero,
E o desejo flama o que o medo engana.

Não prometo, porque já sou sua
De alma e de pensamento...

E então, fica comigo?

Prometo me casar, fazer um filho seu
Mas não prometo ficar...

Isso não.

Não prometo, porque amor incondicional depois de feito
Vira morte súbita

Não prometo porque já tens nossa metade
O que precisa mais?

Não prometo, porque posso voar
E como quem voa, voa para não voltar.

Não prometo, porque te amo
E por te amar, não te engano

Não prometo, porque tu és meu
E por ser é que não é.

E então, fica comigo?

Prometo beijar-te a todo momento.
Sexo selvagem, risos intermináveis.
Mas não prometo não chorar...

Isso não.

Não prometo porque o sofrimento é necessário
Não prometo porque o amor é dor em desatino

Não prometo, porque dessa nossa doença
Cura não há

Não prometo, porque as lágrimas
São o reflexo de nossa relação...

E então, fica comigo?

Prometo ser feliz, o quanto durar
Prometo te fazer feliz...
Mas não prometo morrer ao seu lado.

Isso não.

Não prometo, porque a morte é solitária

Não prometo, porque te amo
E por esse amor eu morro antes

Não prometo porque te odeio
E por esse ódio te mato antes

Não prometo porque somos um só
E por esse elo, a dor é insuportável.

E então, fica comigo?

Prometo ser a mulher dos seus sonhos
Ser a melhor e a pior, ser tudo e não ser nada
Ser a sua vida e a sua alma.
Mas não prometo ser só sua

Isso não.

Não prometo, porque o pecado da carne é tentador

Não prometo porque te amo,
E por amor a raiva chama

Não prometo porque preciso
Necessito desse tesão de outros homens

E então, fica comigo?

Prometo te amar e respeitar
Viver a seu lado...
Prometo a vida

E então?