quarta-feira, 26 de maio de 2010

XXX*

Quando para as sessões do quieto pensamento
Doces lembranças eu convoco do passado,
Sentindo tantas faltas outra vez lamento,
Com velha mágoas, tudo o que me foi levado.
A vista desafeita ao pranto afogo, então,
Por amigos que em noite infinda oculta a morte,
E choro, reaberta, a dor de uma afeição,
E quanto velha cena esvaeceu a sorte.
Posso aflirge-me, assim, com penas já perdidas,
E, faço gravemente, unindo dor a dor,
A conta de aflições já uma vez sentidas,
Que outra vez pago, qual se ainda devedor.
Porém se penso, amigo, em ti nesse momento
Repare-se o perdido e cessa o meu tormento.


- Willian Shakespeare

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