Acordo sozinho e não vejo ninguém, fico imaginando aonde foi todo mundo. Atravesso o corredor, subo as escadas até o terceiro andar, e nada. Em minha cabeça passam pensamentos abstratos... Até que me deparo com um espelho, e ao olhar-me, vejo nele a minha imagem: um físico invejável, mas o que mais me chama atenção em mim mesmo, é o meu olhar, morto e solitário.
Estou sozinho novamente, todos saíram e lá fora cai uma chuva fina, como se São Pedro pedisse para que ali eu permanecesse há observar a chuva bater na vidraça da sala. São Paulo às vezes me parece assim como eu, triste, solitária.
Novamente pensamentos me vêem à cabeça, lembranças da minha infância, da minha vida. De repente me lembro o motivo da minha tristeza, e como a morte de alguém pôde me afetar. São Paulo às vezes é vingativa, corroendo as pessoas no dia-à-dia.
Acidentes de carro acontecem diariamente. A TV anuncia a notícia, a população exclama: ai meu deus! - e voltam as suas vidas matinais. Nunca imagina-se que possa acontecer com alguém tão perto de você.
Lembro-me quando dei a notícia ao seu pai, que estava parado no alto da escada. Nunca vi um pai chorar tanto, e ainda não consigo entender a dor da perda. São Paulo está fria novamente, e uma garoa fina cai pela cidade.
A chuva cai numa vidraça escura, onde ali permanece um garoto, imóvel, caído no chão. Sua imagem refletida no vidro, onde sua expressão não muda. Eu ainda estou ali, e ninguém voltou ainda. São Paulo agora permanece calada.
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