A espera
Resquícios de verão marcam o calendário. Esperando inevitavelmente dias que não mais virão. Parada na janela sinto o ar me faltando...
Crianças correndo com euforia exalada em cada sorriso.
O relógio marca 17h e nada de você chegar. Espero em vão. Você não virá. Não mais. Não depois de tudo.
Risos ditosos de amores que se acabam. Flores na porta com cartão postal de lugares que nunca conheci. Vivi seus sonhos, suas mentiras. Deixei de viver, eu acho!
Ainda bem que não tivemos aquele filho!
Será?
Minha mãe estava certa quando dizia que eu não era pra você. Sempre tão correto, metódico, careta.
Eu libertina.
Meu pai jurou te fazer sofrer, como quem faz a quem não se ama. Afinal, você foi embora sem nem dar explicação
Filhos, mulheres, talvez. Vá saber
Os anos passam, e eu permaneço na janela. Esperando... Em vão. O vento sopra mais forte, caem as folhas da estação
Nenhuma carta, nenhuma palavra.
Sonhos despedaçados. E se eu morrer? Creio que já o fiz.
Estranho sentimento preso na garganta. Prefiro uma faca, então
Minha irmã não entende, acha que eu fiquei caduca. Toma o remédio - ela diz. E depois chora, quieta.
Sofrer de amor, quem não sofre?
Três meses, e o chão continua igual. As folhas passam... As flores chegam. Tudo está lindo agora. E nada de você. Nem mesmo um telefonema
Prefiro que esteja morto, jogado numa vala qualquer para os urubus. Prefiro que seja um moribundo, um João sem nome. Prefiro isso a não preferir que você tenha me esquecido, me deixado
O correio bate a porta, levanto assustada.
São duas da manhã.. não existem carteiros esse horário. Minha aparência de fantasma assusta o moço. Dona Fernanda? - eu mesma. Obrigada moço!
Abro correndo o envelope.
Silêncio!
No fundo, seu distintivo e uma foto. A foto de uma moça morena, de olhos brilhantes, cabelos vivos. Feliz! Não conheço essa moça, não dessa forma. Parece ser alguém distante, de outra vida quem sabe.
Então foi por ela que me deixou? Desgraçado!
Ao entrar no quarto me deparo com o espelho.
Choro...
Você morreu, e a moça também.
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