Os lençóis estampavam a marca dos corpos.
Entrelaçadas mãos e pernas adornavam a nova forma.
O quarto era lúgubre.
O cheiro do mofo não deixava que o sexo se apresentasse.
O papel da parede desbotado pelo tempo.
O sol intrépido derretia os amantes.
Nenhuma brisa vinha socorrer as angústias dos momentos.
Sempre na mesma hora – ela aparecia.
Negligentemente ele a esperava...
Nem precisava olhar o relógio, pois o tempo havia parado naquele quarto.
Não falavam seus nomes, nem conversavam.
Poderiam jurar que não sabiam o som de suas vozes.
Como um ballet de surdos-mudos, os amantes conspiravam.
Às vezes, a comida lhes chegava à boca, mas eram raros os momentos que o estômago se regalava.
Já não comiam.
Aquele verão prometia dias infindos.
O calor aumentava, os corpos sucumbiam ao suor.
Emagreciam.
Mãos e pernas continuavam entrelaçadas, criando outra forma.
Ele esperava.
...ela saía...
....o lençol...
....o calor...
...sexo...
...horas...
Um dia, alguém suspeitou tamanho silêncio.
O cheiro azedo do quarto não permitia sonhos de amor.
Entraram...
Perceberam que o jovem mancebo, sem forma, sem cor, sem nome, continuava a olhar para o longe, como a esperar.
Os vestígios de sua amada eram pequenas marcas de batom que se confundiam com as flores vermelhas desbotadas do papel de parede do quarto lúgubre.
Levaram o corpo sem vestes.
Adornaram seu pé com um cartão dependurado...
Um número talvez.
O verão continua insuportável...
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