segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Reflexões paralelas sobre o cotidiano.

Parada, prendendo a respiração, apenas um minuto se passa e parece que se passou toda eternidade, me vêm à cabeça imagens de quando eu era criança, da bananeira do vizinho, do muro alto da escola, do meu primeiro cavalo, de tudo! Eu abro os olhos: 1 minuto e 23 segundos. - É, acho que podia ter feito melhor! - E continuo tentando ate bater meu recorde de 5 minutos embaixo d’água. Na superfície as coisas são muito diferentes, tem algo a se enfrentar, situações embaraçosas e o medo alheio que esmaga a espinha dorsal, como se um caminhão o tivesse atropelado.
Medo de não ser bom o bastante pra sociedade ou pros princípios dados pelos seus pais, medo de fazer algo novo e gostar, medo do garoto que não para de te olhar e se diz apaixonado, medo do antigo, medo do que irá acontecer. Às vezes paramos de viver, porque temos medo de seguir em frente e não dá certo, outras vezes ignoramos isso e fazemos nossas próprias regras, ambas as decisões te ferram no final. Quando se é criança, não se tem medo de nada, tudo é algo a ser explorado: o bicho nojento e úmido do quintal, o tio velho e gordo que você nunca conheceu, a menina linda de vestido rosa da casa ao lado, cachorros sardentos, muros e ruas mundo adentro. Quando se é criança se tem o mundo nas mãos, pode se fazer o que quiser, pode fingir uma louca aventura, pode se explorar sem medo de não dar certo, porque quando se é criança as coisas acontecem conforme a música. E é nessa fase da vida que se começa a traçar o futuro, seja com aulas de balé que te façam uma bailarina, seja com aulas de judô, que te transforme numa bela judoca, seja com aulas de teatro ou de moda, seja somente brincando e não fazendo nenhuma atividade dita como esporte, seja apenas jogando futebol. Está certo que 50% dessas escolhas são definidas pelos seus pais e está certo também que elas têm metade das chances de dar certo.
Levanto, me enxugo e caminho em direção a minha casa, uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado, linda e tão pura que parece que trás paz pra todos que nela habitam. Mas a pessoas, a maioria delas, não conseguem ver a beleza de uma casa assim se, não dissermos a quão valiosa ela é, aí depois do preço dito, elas exclamam: Que beleza! -É, tenho que me acostumar com o lado material das coisas, mesmo que não aprove, é que às vezes é prazeroso trabalhar em algo que se despreze. O relógio bate 16h45min, duas horas dentro d’água e não consegui bater o antigo recorde, dizem que o máximo que um ser humano agüenta embaixo d’água é 8 minutos, se for assim ainda me restam três. Realmente me sinto melhor de baixo d’água, parece que eu não tenho pra que correr ou porque fazer isso, o mundo é meu, eu faço minhas regras e meu tempo, e quando estou lá absorta em pensamentos é como se o tempo parasse pra mim e voltasse quando sentisse minha respiração. Quando penso na morte, penso na quão dolorosa ela pode ser, e me imagino morrendo afogada, onde meu mundo desabaria e a água se tornaria a vilã e eu uma simples matéria se decompondo no esquecimento do tempo.
Minha mãe sempre me diz pra eu não desistir dos meus sonhos, é pode ser! Às vezes eu me pego parada vendo National Geography, onde a vida da girafa ou da formiga de vez em quando é bem interessante, é incrível como seres minúsculos têm uma rotina e vivem em união em quanto os seres humanos mal conseguem fazer um trabalho em dupla que já discordam e querem ser melhores do que o outro. É incrível a capacidade de alguém desmatar árvore pra enriquecer a custo delas, e mais incrível ainda quando utilizam de crianças menores pro mesmo feito. A humanidade evoluiu, mas a raça humana parece que regride cada vez mais. Óbvio que fizemos vários feitos e conseguimos várias modificações necessárias hoje em dia, mas o caráter humano regride conforme avança as gerações. É ignorar o que não se pode ignorar, é mandar um foda-se pro mundo onde se vive e viver numa bolha, onde o que importa é você e ninguém mais. Como ignorar uma criança que morre de fome na Somália? Ou então o tetraplégico que sofreu um acidente de carro, onde a culpa foi de alguém que esta andando e falando perfeitamente. Como ignorar o mundo e a sociedade onde se vive? É como ignorar a si próprio, é usar uma venda no lugar dos olhos, é ser cego pra tudo que acontece, é não ter caráter e ser totalmente egoísta.
E o filme da minha infância passa de novo na minha cabeça quando estou dormindo: meu primeiro dia de aula, meu primeiro beijo, minha primeira nota vermelha, minha formatura, minhas bonecas e meu cachorro poodle que atendia como o nome de lili. E desejo fortemente voltar a ser criança, voltar a reclamar de coisas sem importância e ser inocente pros problemas de adulto. – É conversa de adulto! – mas se ser adulto é desse jeito, então eu nunca mais quero crescer. Prefiro permanecer um bebê de berço pra sempre, onde a única coisa chata será meu choro de madrugada e minha única preocupação será em tomar leite assim que tiver fome. Um dia caminhando pela praia, uma cigana me parou e pediu para ler minha mão, por mais que eu não acredite nessas coisas eu deixei e ela me disse que meu futuro era incerto, que tudo dependia das minhas escolhas. É ela tava certa, se eu fracasso a culpa é minha e de mais ninguém, mas às vezes é repugnante pensar que vivemos onde vivemos, onde as pessoas fora da minha casa agem e falam de um jeito que da mais raiva ainda de ser parte desse mundo e, o que me resta a fazer é me isolar e viver dentro da minha bolha. Mas como? Como ignorar o mundo lá fora? É tudo tão complicado e tão estranho, que me canso só de pensar. Eu acredito sim que cada um vem pro mundo com uma missão, mas acredito mais ainda que a pessoa que decide qual missão será essa e quando ela deve terminar. A minha missão era talvez fazer meus pais voltarem pra casa juntos e ela já foi realizada, a outra seria tornar minha irmã uma modelo internacional, insentivando-a o tempo todo a emagrecer e fazer exercícios físicos para ficar tão linda quanto é agora. Ou talvez enterrar minha cachorra lili depois de anos de felicidade, ou talvez quem saiba deixar de herança pros meus amigos as fotos e momentos perfeito que vivemos, muitos maiores que momentos de tempestades, não menos importantes. Mas também acho que se não estou satisfeita com alguma coisa devo ser eu e mais ninguém a mudá-la.
O sol está se pondo, 10 minutos se passam e eu permaneço embaixo d’água, um filme da minha vida se passa na minha cabeça e um longo sorriso se abre no meu rosto, refletindo talvez a felicidade instantânea que sempre procurei ou simplesmente a felicidade de relembrar momentos tão mágicos. 10 minutos e o sol vai cobrindo toda a piscina, me cobrindo, cobrindo meu mundo e meus sonhos, fechando pra todo sempre a minha bolha onde habitei por tanto tempo. Foram necessários 10 minutos e nada mais. Fecho meus olhos e ali permaneço parada, a água e eu juntas como se fossemos uma só, 10 minutos e o silêncio eterno!

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